Crise econômica de 2008 pode ser causa de milhares de suicídios no mundo
Um artigo publicado terça-feira (17) no British Medical Journal afirma
que a crise econômica mundial de 2008 poderia ser a causa do aumento
das taxas de suicídio na Europa e nos EUA, especialmente entre os
homens, e nos países com maiores níveis de destruição do emprego.
Execuções de dívidas, quebradeiras e o aumento do desemprego não são
as únicas consequências da crise. Um novo estudo assegura que, em 2009,
pouco depois de estourar a crise econômica mundial, a taxa global de
suicídios de homens aumentou 3,3%, com um incremento de 5000 suicídios
masculinos em todos os países analisados.
Os autores, pesquisadores das universidades de Hong Kong, Oxford e
Bristol, dispuseram desses dados acima, que procederam de 54 países,
para avaliar as mudanças nas taxas de suicídio após a crise de 2008,
assim como a influência do sexo, da idade, do país e da mudança de
emprego.
Os resultados desse estudo, pioneiro na análise das tendências
internacionais do suicídio, foram publicados nesta semana no British
Medical Journal. O trabalho aponta que o aumento no número de mortes nas
nações estudadas foi observado principalmente nos 27 países europeus
(com um aumento de 4,2%) e em 18 países do continente americano (6,4%).
Os dados utilizados nesta pesquisa provêm das bases de dados de
mortalidade da Organização Mundial de Saúde (OMS), dos Centros para o
Controle e a Prevenção de Doenças e o do informe sobre as perspectivas
da economia mundial do Fundo Monetário Internacional (FMI). Assim mesmo,
o desemprego foi utilizado como principal indicador econômico.
Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores calcularam o número
esperado de suicídios em comparação com as tendências anteriores.
Afirmam os autores que, em 2009, houve um aumento de 37% no desemprego e
o PIB per capita caiu 3%, o que reflete o início da crise. Os
cientistas afirmam que este estudo documenta um “aumento significativo
no suicídio após a crise econômica mundial de 2008”.
Aumento do desemprego
O estudo aponta que todos os países europeus experimentaram o aumento
do desemprego em 2009 e em 2010. Nos EUA e no Canadá, as taxas de
desemprego começaram a subir em 2008, seguidas por um aumento
espetacular em 2009 e em 2010.
Além disso, o maior aumento na Europa se observou nos homens entre 15
e 24 anos de idade, e de 45 a 64 anos, nos EUA. Entre as mulheres
europeias, ao contrário, não houve qualquer mudança e apenas se observou
um pequeno aumento nas mulheres estadunidenses.
Também em 2009, os novos estados membros da União Europeia (Bulgária,
República Tcheca, Estônia, Hungria, Letônia, Lituânia, Malta, Polônia,
Romênia e Eslovênia) mostraram aumento maior nas taxas de suicídio
masculino (13,3%) do continente.
Por sua vez, os EUA e o Canadá mostraram um aumento de 8,9% e os
países do Caribe e da América Central, de 6,4% nos suicídios masculinos,
em comparação com um aumento menor nos países da América do Sul.
Segundo os especialistas, estas subidas parecem estar associadas à
magnitude dos aumentos nos níveis de desemprego, sobretudo entre os
homens em idade adulta e nos países com baixos níveis de desemprego
antes da crise.
Angústia emocional
Os autores sublinham que seus achados são “provavelmente uma
subestimação do verdadeiro impacto global da crise econômica sobre o
suicídio”, já que os dados de alguns países ainda não estavam
disponíveis.
De fato, nos 20 países europeus que já dispõem de dados de 2010, sua
análise indica um aumento ainda maior no suicídio masculino: 10.8% a
mais que em 2009.
Para os cientistas, o aumento no suicídio pode ser a ponta do iceberg
da angústia emocional relacionada à recessão. Segundo as estatísticas,
para cada pessoa que tira a própria vida, aproximadamente de 30 a 40 o
tentam; e que para cada suicídio tentado, há uma dezena de pessoas
experimentando ideação suicida.
“É necessário tomar medidas urgentes para evitar que, com a crise
econômica haja cada vez mais suicídios” e que os programas do mercado de
trabalho possam “ajudar a compensar o impacto da recessão sobre o
suicídio”, concluem os investigadores.
Alerta da OMS
Em 2008, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) estimou que o
número de desempregados no mundo poderia chegar a 212 milhões, em 2009,
um aumento de 34 milhões em relação a 2007.
Por sua parte, a Organização Mundial da Saúde (OMS) expressou sua
preocupação com o impacto da crise na saúde mundial e pediu ações para
controlar e proteger a saúde, especialmente entre a pessoas pobres e
mais vulneráveis.
Até agora, os estudos disponíveis só reportam os dados de um número
limitado de países e não houve pesquisas sistemáticas em padrão
internacional geral ou por grupos de sexo, idade e segundo as regiões
mais afetadas.
cartamaior http://www.paraibaportal.com
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