Entidades da sociedade civil questionam a migração das rádios AM para FM
A presidenta
Dilma Rousseff assinou na última quinta (7) o decreto que possibilita a
transferência de emissoras de rádio da banda AM para a FM. Apesar do
clima de comemoração – o Executivo escolheu o dia do radialista para a
oficialização – as entidades que representam os trabalhadores de
empresas de radiodifusão e também das rádios comunitárias mostraram
descontentamento com a decisão, que, segundo eles, foi tomada sem o
debate com todos os setores da sociedade e é nociva à democratização da
comunicação.
O processo de
transição é inicialmente opcional, mas o ministro das Comunicações,
Paulo Bernardo, informou que a pasta não dará mais outorgas para a banda
AM, que será substituída aos poucos pela FM. O governo atende, ao
publicar o decreto, à demanda oficial do setor empresarial, encaminhada
pela Associação das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), sob o
argumento do alto nível de interferência de ruídos nas transmissões AM.
As entidades da
sociedade civil apontam que a diminuição da área de cobertura das
rádios - o alcance das rádios FM é muito inferior ao do rádio AM –
deixará áreas periféricas e rurais sem sem alternativas de comunicação e
informação e, ainda mais, dificultará a implantação das rádios. Segundo
o ministro, as empresas terão que comprar transmissores novos, que
custam de R$ 35 mil a R$ 50 mil.
“Não há espaço
no dial FM para tanta rádio, mesmo que acabem com todas as atuais rádios
FM. Não no atual rádio analógico, e mesmo porque, dessas rádios AM, as
que não são mantidas por governos ou igrejas ou outros grupos
confessionais, mal têm condições de se manterem no ar no AM, que dirá
migar para o concorrido dial FM ou de ter repetidora no FM”, diz a nota
pública da Federação Interestadual dos Trabalhadores em Radiodifusão e
Televisão (Fitert). Para eles, a melhor solução seria a garantia da
digitalização de todos os sistemas existentes no país, inclusive o rádio
AM.
Segundo o
representante nacional da Associação Mundial de Rádios Comunitárias,
Pedro Martins, a decisão do governo foi arbitrária, sem diálogo com
outros setores da sociedade. “Setores da comunicação comunitária, da
comunicação livre, das rádios livres, sequer foram chamados a conversar
para ver como seria a integração para o setor de FM da radiodifusão”,
disse.
Ele lembra que
há mais de um ano o segmento aguarda o retorno da proposta de alteração
do decreto que garantiria a sustentabilidade das rádios comunitárias
(Decreto 9615/98). “Enquanto isso, o projeto de migração da faixa AM
para FM, em menos de quatro meses, foi analisado e aprovado pelo
governo”, reclama. Martins chama a atenção para a morosidade da
aprovação dos processos de outorga das emissoras comunitárias e destaca a
constante criminalização dos radialistas. “No momento em que poderíamos
agregar novas possibilidades, dar voz a novos setores, o governo chama
só o setor empresarial”, termina.
A Abraço
Nacional, em notícia em seu site, afirma que os radialistas comunitários
estão indignados com o descaso do Executivo. Para o coordenador da
entidade, José Soter, o posicionamento atende apenas aos interesses
mercadológicos, em detrimento das necessidades da democratização da
democratização.
Sóter destaca
que o Executivo não cumpre a obrigação constitucional da complementação e
do acesso às concessões, previstos na Constituição Federal. ”Existem
dois pesos e duas medidas. Enquanto o governo se nega a encaminhar mais
canais para atender as necessidades da expansão das rádios comunitárias,
em apenas uma canetada fizeram esta migração. Priorizando as rádios
comerciais, o governo ilustra o seu descaso com quem realmente necessita
de comunicação”. Segundo o coordenador, as entidades pedirão ainda uma
audiência com o Executivo para tratar do assunto.
Segundo o
governo, nos casos em que não for possível fazer a migração, por falta
de espaço nas rádios FM, as rádios terão que aguardar a conversão da TV
analógica para a digital. Os canais 5 e 6, que hoje ocupam a TV
analógica, estarão disponíveis para receber as rádios. Cada um destes
canais, na futura TV digital, terá espaço para 20 emissoras de rádio. De
acordo com o MiniCom, hoje existem cerca de 3 mil emissoras de rádio,
distribuídas aproximadamente em 50% para AM e FM.
(Foto: Rádio Comunitária em Juiz de Fora/FNDC)
Fonte:Paraíba Portal
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