Espionagem não será resolvida com diplomacia, diz diretor do GSI
Articulações políticas e diplomáticas não serão suficientes para evitar a espionagem praticada por outros países no Brasil. Esta é a opinião manifestada hoje (6), no Senado, pelo diretor do Departamento de Segurança de Informação e Comunicação do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, Raphael Mandarino.
Ele também
disse que a proteção de dados sensíveis do governo brasileiro passa,
pelo menos em um primeiro momento, pelo uso de uma criptografia de
Estado. Além disso, defendeu a adoção de softwares e hardwareslivres de backdoor - brechas deixadas em programas, equipamentos ou sistemas operacionais para possibilitar o acesso de terceiros a dados.
“Articulação
política diplomática com a ONU não será suficiente para sanar o problema
de espionagem porque espionagem segue a ética de Estado. Espião até
mata se for preciso defender seu país. Então ética de Estado é
completamente [diferente] da ética que temos, do cidadão comum. E não há
tratado que resolva isso. O interesse do Estado e o interesse econômico
sempre vão prevalecer”, disse ele, após participar da Comissão de
Infraestrutura, em audiência destinada a discutir a segurança na
internet.
Segundo
Mandarino, a iniciativa do governo em implantar um sistema capaz de
proteger mensagens pode ajudar na proteção de dados, especialmente das
320 redes críticas, que envolvem, além da administração pública federal,
os dados de estatais e bancos públicos, entre outros.
“Essa
força-tarefa brasileira para dar mais segurança às informações internas é
um primeiro passo. Mas hoje, imediatamente, o que vai resolver é a
criptografia. Não conheço outro remédio para proteger os dados. E não
adianta proteger apenas no computador. As redes também têm de estar
criptografadas”, disse o diretor do GSI. “A gente [na Agência Brasileira
de Informação, Abin] tem equipamento de Estado para isso e já o fazemos
há muito tempo”, acrescentou, referindo-se à chamada criptografia de
Estado.
No entanto,
acrescenta o diretor do GSI, só agora, após denúncias de que espiões
norte-americanos tiveram acesso a dados e ligações telefônicas do
governo brasileiro, é que as autoridades começaram a desenvolver uma
cultura de segurança da informação.
“Acho que o
comportamento das autoridades está mudando. E é por isso que estou
tentando fazer uma estátua para Snowden. Ele chamou bastante atenção
para essas coisas”, disse. Edward Snowden é um ex-consultor da Agência
Nacional de Segurança (NSA), autor das denúncias de espionagens do
governo norte-americano contra diversos países, entre eles, o Brasil.
O problema,
acrescentou Mandarino, é que falta um órgão que tenha poder de polícia
para cobrar, das entidades estratégicas brasileiras, a implementação das
normas de segurança da informação.
“Falta uma
coordenação única; uma agência única. Precisamos de um órgão – na minha
opinião no nível da Presidência da República, por estar acima dos
ministérios – que determine o que fazer [em termos de cumprimento das
normas de segurança]. Não é para fazer, mas para determinar que seja
feito”, argumentou.
Para ele, essa
coordenação tem de ir além do governo e envolver também a sociedade
civil. “As empresas também têm de se proteger. Tem de ser uma política
nacional, seguida de um órgão que, com poder de polícia, cobre a
aplicação dessa política e dessas normas”.
A criptografia
de Estado à qual Mandarino se refere abrange tanto computadores como
redes. Segundo ele, até mesmo programas desenvolvidos por Estados Unidos
e Reino Unido para a quebra de criptografias teriam dificuldade para
terem sucesso na decodificação de dados. “Pelos nossos cálculos, isso
levaria centenas de anos. Teriam de descobrir dois números primos
enormes e o tipo de operação que foi feita com eles, bem como a ordem da
operação. É muito difícil”, disse.
“Além disso, em
uma criptografia, você não está preocupado [apenas] se ela será ou não
decodificada. Você tem de proteger a informação apenas por um tempo
útil, porque ela tem validade. Vou dar um exemplo: uma reunião do Banco
Central que vai determinar se haverá aumento do dólar. Aquela informação
só é importante até sair a ata. Depois, ela é pública. Então, o que se
tem de assegurar com a criptografia é que, no tempo útil da informação,
ela não vai ser vazada”, acrescentou.
Agência Brasil Fonte:Paraíba Portal
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