Governo cria tropa de choque de 10 mil homens para protestos na Copa
O
governo federal formou uma tropa de choque de 10 mil homens que irá
apoiar as polícias militares nas 12 cidades-sede dos jogos da Copa do
Mundo de 2014 para conter protestos violentos durante o evento.
São
os PMs que integram a Força Nacional de Segurança Pública, treinados
desde 2011, segundo o diretor da unidade, coronel Alexandre Augusto
Aragon. Eles tiveram o aperfeiçoamento intensificado neste ano após as
manifestações de junho, durante a Copa das Confederações.
Criada
em maio de 2007 por uma lei sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, a Força é composta por PMs, policiais civis, bombeiros e
peritos de todos os estados, que são voluntários e passam por um
treinamento diferenciado antes de serem enviados para missões
excepcionais e de caráter temporário.
“A
Força Nacional não é uma força comum. Somos convocados só para momentos
de crise, só para missões específicas. Cheguei a ter 42 frentes de
operações abertas ao mesmo tempo no país. Para a Copa do Mundo, formamos
10 mil homens em doutrinas de ações de choque, e estamos com condições
de atuar em todas as 12 cidades-sede ao mesmo tempo”, afirma o coronel
Aragon.
O
número de policiais treinados pela Força Nacional para controle de
protestos é representativo quando se compara o efetivo das tropas de
Choque dos estados: a maioria possui apenas um batalhão, contando com
entre 100 e 200 homens com esta qualificação.
Até
mesmo São Paulo, que possui a maior Tropa de Choque do país (3 mil
homens) e que, mesmo durante ataques de facções criminosas, nunca pediu
apoio federal na segurança pública, deve contar com homens da Força
Nacional, diz o secretário nacional de segurança para grandes eventos,
delegado da Polícia Federal Andrei Augusto Passos Rodrigues.
Segundo ele, os estados deverão concluir até o fim de janeiro o planejamento do que que vão precisar de apoio federal.
A
previsão é que, com a experiência da Copa das Confederações, quando
houve atuação em 5 estados, a Força Nacional envie soldados para todos
aqueles que receberão jogos da Copa.
“Pela
qualidade desta tropa, ela deverá atuar em todas as sedes. Em algumas,
como força de contingência (ficando em espera nos quartéis, sendo
acionada só quando precise). Em outras, terá função definida de antemão,
como apoio ao policiamento ostensivo, bloqueio de estádios, controle de
ruas onde haverá protestos. Cada estado definirá isso”, afirma
Rodrigues.
"Temos
uma interação absolutamente boa com o secretário de Segurança de São
Paulo, Fernando Grella, que já esteve aqui no Ministério da Justiça
várias vezes e sabe que esta é um força que está à disposição”,
acrescenta o secretário.
A
Secretaria de Segurança de São Paulo informou que o plano de segurança
para a Copa ainda não está pronto, mas que a hipótese de pedido de apoio
da Força Nacional "sequer foi cogitada".
Preparação
A decisão de aplicar um curso de controle de distúrbios civis (como são chamados, na linguagem policial, manifestações e protestos) em 10 mil homens ocorreu após uma análise das últimas edições do evento.
“Desde
a Copa do Mundo de 1930, os países-sede enfrentam histórico de
manifestações. Houve também na África do Sul (2010), na Alemanha (2006) e
na Coreia do Sul e no Japão (2002). Já estávamos preocupados com isso
antes mesmo dos eventos deste ano, pois não é nossa responsabilidade
esperamos pra ver”, diz o coronel Aragon. “A violência dos protestos
recentes é que assustou. Tivemos muitos policiais feridos no Rio. Isso
gerou aprimoramentos”, afirma ele.
“A
doutrina de força de Choque determina que não se chegue muito perto dos
manifestantes. Não é uma ciência exata. No leilão de Libra (em outubro
no Rio), houve confronto e fomos atacados, mas tentamos manter uma
distância mínima de 30 metros deles. O objetivo era manter o isolamento e
impedindo o acesso ao local de onde ocorria o evento”, explica o
diretor da Força.
Quando
a Força Nacional é enviada em apoio a um estado, ela fica subordinada
aos órgãos de segurança pública locais e recebem missões específicas.
Por
exemplo, na final da Copa das Confederações, em que o Brasil bateu por 3
a 0 a Espanha no Maracanã, em 30 de junho, os PMs da Força integravam
uma linha de contenção do estádio. Já durante os protestos, foram
destinados, pela PM do Rio, para fazer o bloqueio ou conter atos de
vandalismo em alguma rua.
Formada
por cerca de 12 mil homens, entre policiais militares, policiais civis,
peritos e bombeiros, a força atua sempre com caráter temporário e sob
portaria publicada no Diário Oficial pelo Ministério da Justiça.
Enquanto cedidos pelos estados para uma missão, os policiais continuam
como contratados pelo estado e recebendo o salário do estado. Há apenas
um adicional: a diária de viagem para a missão, que é paga pelo governo
federal, e varia entre R$ 200 e R$ 600 por dia, dependendo do local.
Durante a Copa das Confederações e a visita do Papa, o Ministério da
Justiça autorizou o pagamento de diária dobrada para integrantes da PF,
Polícia Rodoviária Federal e da Força.
Robô espião
Para os protestos de 2014, a Força adquiriu um minirrobô espião, que vai monitorar militantes do black bloc: pequeno e de borracha, ele se infiltrará durante os atos de violência para realizar filmagens e auxiliar na investigação dos envolvidos.
“Não
posso dar detalhes de como funciona, para que não seja envolvidos. Mas
suas imagens vão nos ajudar a entender o que está acontecendo”, diz o
coronel Aragon.
A
corporação possui uma escola, em Brasília, que padroniza as ações dos
policiais de vários estados, seguindo os preceitos da ONU, que, conforme
o comandante, autoriza o uso de munição menos letal nos protestos, como
spray de pimenta, lacrimogêneo e bala de borracha. Também foi montado,
na capital federal, um centro de monitoramento que permite acompanhar em
tempo real todas as operações da força pelo país, que vão desde apoio a
cidades em caso de greves policiais, socorro em calamidades, enchentes e
tragédias, até policiamento de áreas indígenas e proteção de juízes e
autoridades.
“Cheguei
a ter 42 operações ocorrendo ao mesmo tempo nos 23 estados e no
Distrito Federal. Preciso saber o que está acontecendo em cada uma
delas”, afirma o diretor da Força.
(Foto: Silvia Izquierdo/AP)
Paraíba Portal
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