BBom prometia lucro de 24.000%, diz Ministério da Fazenda
Até ter as
atividades bloqueadas provisoriamente por suspeita de ser uma pirâmide
financeira, em julho passado, a BBom prometia lucro de cerca de 24.000%
em cinco anos. A informação faz parte de um estudo do Ministério da
Fazenda. Após obter uma liberação parcial, em novembro, o dono previu
rendimentos ainda melhores a quem apostasse no negócio.
A título de
comparação, quem tivesse comprado ações da Apple há dez anos teria
obtido um retorno de 3.900%, segundo dados da consultoria Economatica
tabulados pelo professor de finanças pessoais do Insper, Michael
Viriato.
“Dizer 24.000%
em cinco anos equivale a um retorno de 200% ao ano. É realmente muito
difícil”, afirma Viriato. “Você está falando em um risco elevadíssimo.
Se o retorno esperado é tão elevado, deve-se desconfiar.”
No Brasil, a
ação que mais se valorizou nos últimos cinco anos – da construtora Eztec
– atingiu 1.261,45%, de acordo com a Economatica. A caderneta de
poupança rendeu 39,19% no mesmo período, aponta a consultoria.
Os dados sobre a
BBom fazem parte de um despacho que consta do processo criminal contra
os responsáveis pelo negócio que tramita na 6ª Vara Federal Criminal de
São Paulo, especializada em delitos financeiros. Procurado, Gustavo
Kfouri, um dos advogados da empresa, informou que recorerrá de todas as
decisões. Ele também questionou os números.
"Dos autos constam dados que comprovam que 'em momento algum a empresa prometeu tal lucratividade'", informou Kfouri, em e-mail.
Os representantes da BBom sempre negaram irregularidades.
Documento reforça suspeita de insustentabilidade do negócio, diz juiz
A BBom é
apresentada como braço de marketing multinível da Embrasystem, que atua
no mercado de rastreadores. O negócio, entretanto, é acusado pelo
Ministério Público Federal em Goiás (MPF-GO) de ser a fachada de uma
pirâmide financeira sustentada pelas taxas de adesão dos associados, que
vão de R$ 600 a R$ 3 mil.
Lançada em
fevereiro de 2013, a BBom fez com que a movimentação da Embrasystem
passasse de R$ 100 mil em 2012 para R$ 300 milhões em março de 2013. Até
o bloqueio, em julho do mesmo ano, a empresa já havia atraído 300 mil
pessoas.
A promessa de
24.000% de lucro consta de estudo da Secretaria de Acompanhamento
Econômico do Ministério da Fazenda (Seae/MF) sobre o negócio, feito a
pedido do MP-GO.
Uma parte do
documento que já havia sido tornada pública informava não haver “motivo
econômico justo e razoável capaz de explicar a explosão de
rentabilidade” da BBom. O órgão, entretanto, não divulgara as contas que
levaram a tal conclusão.
Alguns dos
números puderam ser conhecidos nesta segunda-feira (10), em despacho
juiz substituto da 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo, Marcelo
Costenaro Cavali, responsável pelo processo criminal movido contra o
grupo BBom e seus sócios.
O documento da
Seae/MF foi apresentado a Cavali pelos representantes da BBom na
tentativa de provar a regularidade dos negócios da empresa. O juiz,
entretanto, entendeu que o estudo “acaba por trazer mais subsídios no
sentido de que, efetivamente, a Embrasystem [empresa dona da marca BBom]
realizava uma atividade insustentável, com vários elementos denotativos
das pirâmides financeiras.”
Cavali também
cobrou, novamente, documentos que permitam atestar a regularidade dos
negócios do grupo, e que "persistem os indícios da prática de crime
financeiro de larga monta".
“Até o momento,
não foram trazidos elementos convincentes de que ao menos parte das
operações realizadas pelas empresas envolvidas possua caráter lícito”,
informa o despacho divulgado na segunda-feira (10).
Após liberação, presidente falou em modelo mais lucrativo
A BBom continua
em atividade graças a uma decisão do desembargador Reynaldo Fonseca, do
Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1). O magistrado liberou
provisoriamente dois dos seis modelos de atuação do negócio.
Apesar das
restrições, logo após a decisão o presidente da Embrasystem, João
Francisco de Paulo, disse em palestra a associados, registrada em vídeo,
que colocaria em operação “uma forma [de atuação] que não diminua o
rendimento de vocês [associados], pelo contrário, melhore o rendimento
de vocês.”
"Para isso nós
bucamos parcerias, nós buscamos condições de melhorar para vocês (...),
fazendo com que vocês ganhem mais dinheiro com o modelo novo"
A promessa de
um modelo ainda mais lucrativo também foi feita em um evento sobre a
BBom ocorrido em São Paulo no final de 2013, acompanhado pelo iG. Nele,
um apresentador dizia que "o seu João vai pagar mais do que pagava antes
[do bloqueio]."
Fonte: IG Paraíba Portal
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